OS GRANDES INICIADOS

HELENA PETROVNA BLAVATSKY

 
Em russo: Елена Петровна Блаватская.
Mais conhecida como Helena Blavatsky ou Madame Blavatsky, foi uma prolífica escritora, filósofa e teóloga da Rússia, responsável pela sistematização da moderna Teosofia e co-fundadora da Sociedade Teosófica.
Personalidade complexa, dinâmica e independente, desde pequena mostrou possuir um caráter forte e dons psíquicos incomuns, e logo em torno dela se formou um folclore doméstico. Imediatamente após um casamento frustrado, deixou o esposo e partiu em um longo período de viagens por todo o mundo em busca de conhecimento filosófico, espiritual e esotérico, e nesse intervalo alegou ter passado por inúmeras experiências fantásticas, entrado em contato com vários mestres de sabedoria ou mahatmas e deles recebido na condição de discípula um treinamento especial para desenvolver seus poderes paranormais de forma controlada, a fim de que pudesse servir-lhes de instrumento para a instrução do mundo ocidental. A partir de 1873 iniciou sua carreira pública nos Estados Unidos, e em pouco tempo se tornou uma figura tão celebrada quanto polêmica. Exibiu seus poderes psíquicos para grande número de pessoas, deslumbrando a muitos e despertando o ceticismo em outros, que não raro a acusaram de embuste, muitas vezes com boas evidências para tal. Entretanto, em muitos outros casos seus poderes pareceram autênticos. A controvérsia a acompanhou por todo o resto de sua vida e ainda hoje está acesa. Nos Estados Unidos estabeleceu uma duradoura aliança de trabalho e companheirismo com Henry Olcott, com quem fundou a Sociedade Teosófica, e em 1877 Blavatsky publicou sua primeira obra importante, Ísis sem Véu, já tendo escrito antes inúmeros artigos. Pouco depois ela e Olcott transferiram a sede da Sociedade para a Índia, e passaram a viver lá, até que um incidente, o Caso Coulomb, abalou gravemente sua reputação internacional, quando foi declarada culpada de fraude num relatório publicado pela Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres. Voltou então para a Europa, onde continuou escrevendo e divulgando a Teosofia. Seus anos finais foram difíceis, estava frequentemente adoentada e envolvida em discussões públicas, tinha de administrar a Sociedade que fundara e que crescia rapidamente, e a quantidade de trabalho que se impunha era enorme. Mesmo assim pôde concluir seu livro mais importante, A Doutrina Secreta, uma síntese de História, Ciência, Religião e Filosofia, e deixar outras obras de relevo, além de profusa correspondência e grande coleção de artigos e ensaios.
Blavatsky surgiu em um momento histórico em que a religião estava sendo rapidamente desacreditada pelo avanço da Ciência e da Tecnologia, e que testemunhou o nascimento de uma série de escolas de ocultismo ou de pensamento alternativo, muitas delas com base conceitual pouco firme ou desenvolvendo práticas apenas intuitivas, que ganhavam grande número de adeptos em virtude do fracasso do Cristianismo em fornecer explicações satisfatórias para várias questões fundamentais da vida e sobre os processos do mundo natural. A importância da contribuição de Blavatsky foi então reafirmar o divino, mas oferecendo caminhos de diálogo com a Ciência e tentando purgar a Religião institucionalizada de seus erros seculares, combatendo o dogmatismo e a superstição de todos os credos e incentivando a pesquisa científica, o pensamento independente e a crítica da cega através da razão. Lutou contra todas as formas de intolerância e preconceito, atacou o materialismo e o ceticismo arrogante da ciência, e pregou a fraternidade universal. Sem pretender fundar uma nova religião, sem reivindicar infalibilidade nem se intitulando proprietária ou autora das idéias que trouxe à luz, apresentou ao mundo ocidental uma síntese de conceitos, técnicas e interpretações de uma grande variedade de fontes filosóficas, científicas e religiosas do mundo, antigas e modernas, organizando-as em um corpo de conhecimento estruturado, lógico e coerente que compunha uma visão grandiosa e positiva do universo e do homem. Com isso a Teosofia se tornou, ainda que contestada por vários críticos, um dos mais bem sucedidos sistemas de pensamento eclético da história recente do mundo, unindo formas antigas e novas e provendo pontes entre vários mundos diferentes - sabedoria antiga e pragmatismo moderno, oriente e ocidente, sociedade tradicional e reformas sociais. Influenciou milhares de pessoas em todo o mundo desde que apareceu, desde a população comum a estadistas, líderes religiosos, literatos e artistas, e deu origem a um sem-número de seitas e escolas de pensamento derivativas.

PRIMEIROS ANOS
Helena Blavatsky era filha do Coronel Pyotr Alekseyevich Gan (Пётр Алексеевич Ган) e Elena Andreyevna Fadeyeva (Елена Андреевна Фадеева), uma conhecida escritora de romances, que escrevia sob o pseudônimo de Zeneida R-va. Seu pai era de uma família de antiga nobreza de Mecklenburg, na Alemanha, os condes Hahn von Rottenstern-Hahn, que havia emigrado para Rússia um século antes e adaptado seu sobrenome para Gan, e que então prestava serviços para o governo russo. Sua mãe era da família principesca dos Dolgorukov, uma das mais antigas e distinguidas do Império Russo, que havia produzido uma dinastia de príncipes e grãos-duques poderosos e dois czares, além de uma de suas princesas ter casado com Miguel I, o fundador da dinastia então reinante, os Romanov. A família ainda deu figuras importantes para o Iluminismo local. Desta forma Helena nasceu em um ambiente da alta aristocracia russa, rico, educado e culto, mas a união dos seus pais não era feliz. Teve três irmãos, Alexander, que morreu na infância, Vera, escritora de novelas fantásticas, e Leonid.
Yekaterinoslav no início do século XIX.

Helena nasceu prematuramente perto da meia noite entre os dias 30 e 31 de julho de 1831, segundo o calendário juliano, ainda em vigor no Império (11-12 de agosto segundo o calendário gregoriano). A criança nasceu tão pequena e fraca que se pensou que não sobreviveria, e assim foi providenciado seu batismo já no dia seguinte, onde recebeu o nome de Elena Petrovna Gan. Durante a cerimônia o celebrante teve sua roupa incendiada por uma vela e feriu-se gravemente, o que foi visto pelos supersticiosos servos da família como o prognóstico para a criança de uma vida tumultuada e difícil, e a data de seu nascimento era considerada por eles como propícia para que o nativo desenvolvesse poderes psíquicos, e no seu caso, como sua história mostrou, a superstição estava inteiramente correta. Segundo relatos de seus familiares, foi uma criança obstinada, rebelde e imaginativa, gostava mais de estar entre os soldados de seu pai e entre os servos do que entre os filhos da nobreza, que sonhava em voz alta e vivia reunindo amigos para contar-lhes as visões que tinha e as histórias em que ela se apresentava como uma heroína e autora de estranhas façanhas, e que dizia poder falar com os animais e seres inanimados e possuir um grupo de amigos invisíveis. A vida militar de seu pai exigia constantes deslocamentos e a família estava frequentemente mudando de casa. Seu pai estava sempre ocupado com suas tropas, e sua mãe se tornara em grande parte ausente, dedicada à sua carreira literária, morando entre São Petersburgo, Astrakhan, Odessa e a casa de seus pais, e a educação de Helena foi entregue a governantas, que lhe ensinaram piano, dança e línguas, para as quais ela mostrava ter grande facilidade. Ela mesma descreveu seus primeiros anos nos seguintes termos:
"Minha infância? De um lado, mimada e acariciada; de outro castigada e tratada com rigor. Doente e sempre às portas da morte até os sete ou oito anos, sonâmbula; possuída pelo demônio. Governantas, duas… Enfermeiras - não sei quantas… Uma meio tártara. Soldados do meu pai tomando conta de mim…".

Depois do precoce falecimento de sua mãe em 6 de julho de 1842, Helena cresceu sob cuidados de seus avós maternos em Saratov, onde seu avô era governador. Segundo várias testemunhas, logo se mostrou dotada de poderes psíquicos ou sobrenaturais, e a tradição existente sobre ela diz que era capaz de materializar flores, levitar pequenos objetos e de produzir outros prodígios. Ainda jovem interessou-se pelo esoterismo, lendo avidamente sobre magia e alquimia em trabalhos de Paracelso, Cornelius Agrippa e Heinrich Khunrath na biblioteca do seu bisavô, o príncipe Pavel Dolgorukov, que tinha sido iniciado na Maçonaria no final do século XVIII. Em 1847 mudou-se com seus avós para Tiflis, onde seu avô assumiu o cargo de governador da Transcaucásia, e ali conheceu seu futuro marido, Nikifor Blavatsky, e o príncipe Galitzin, ambos com interesses na área do ocultismo. Existe uma versão de sua história nesse período dizendo que ela teria se apaixonado pelo príncipe Galitzin e fugido com ele, e que o escândalo que se formou teria sido a causa de seus avós arranjarem seu casamento o quanto antes. Outra versão diz que o casamento aconteceu em virtude de uma aposta que Helena teria feito com uma de suas servas, que não acreditava que alguém jamais se interessaria por uma pessoa tão intratável como ela.
De qualquer forma, com dezessete anos, em 7 de julho de 1848, casou-se de fato com Nikifor Blavatsky. Vice-governador da província de Erevan, na Arménia, ele era muito mais velho do que ela, e o casamento nunca se consumou. Helena aceitou casar-se com a esperança de adquirir independência, mas fugiu do marido quando ainda estava a decorrer a lua-de-mel e foi para a casa dos avós em Tiflis. Diante do problema, seu pai foi consultado, e arranjou-se que ele encontrasse Helena em Odessa para resolver a situação. Mas prevendo que ele ordenaria que ela voltasse para o marido, conseguiu enganar a escolta que fora enviada para acompanhá-la e se dirigiu para Constantinopla, de onde iniciou um longo período de viagens pelo mundo, iniciando pela Turquia, Grécia e Egito. A descrição do seu itinerário exato e dos eventos que nelas aconteceram é difícil. Não foram documentadas e são todas reconstituídas através de seus próprios relatos, muitas vezes imprecisos, sem uma ordem cronológica coerente e aparentemente fantásticos, mas não impossíveis, numa época em que as longas viagens por países exóticos se tornavam uma moda entre a elite européia. Por exemplo, dizia ter atuado num circo montando cavalos em pêlo, viajado em carroça aberta pelo Meio-Oeste norteamericano e ali se encontrado com tribos de peles-vermelhas, trabalhado como importadora de penas de avestruz em Paris e decorado aposentos da Imperatriz Eugênia. Alguns autores sugerem que ela pode ter tido amantes, como o barão de Meyendorff, o príncipe de Wittgenstein e o cantor de ópera Metrovich, mas se às vezes dava a entender que tais ligações eram reais, noutras se esquivava. Já foi sugerido que ela teve um filho, a partir de um relato seu sobre uma criança que ela "adotara" e que logo morrera, mas um atestado médico emitido em 1885 pelo doutor Leon Oppenheim afirmou que ela jamais poderia engravidar, pois sofria de prolapso uterino, provavelmente congênito.
                                                       Helena Blavatsky em 1850

Em algumas dessas viagens, ela foi acompanhada por Albert Rawson, um explorador e artista natural dos Estados Unidos, também interessado no esoterismo e que era membro de lojas maçônicas. Em 1850 estavam ambos no Cairo, onde estudaram com Paolos Metamon, um mago copta. Segundo consta, em seu aniversário de vinte anos, em 1851, Helena estava com seu pai em Londres, quando pela primeira vez encontrou-se com seu mestre, que ela conhecia de visões e sonhos desde sua infância. Este mestre seria um iniciado oriental de Rajput, o Mestre Morya, como é conhecido entre os teósofos, que fazia parte de uma missão diplomática de príncipes hindus em Londres e que a informou de que devia preparar-se para um trabalho importante que incluiria um treinamento de três anos no Tibete. No mesmo ano, Blavatsky embarcou para o Canadá, e depois viajou por várias partes dos Estados Unidos, México, América do Sul, e Índia. Sua primeira tentativa em entrar no Tibete aparentemente falhou, retornando então a Inglaterra, passando por Java.
Em 1855 retornou à Índia e disse ter sido bem sucedida em sua tentativa de entrar no Tibete através de Caxemira e Ladakh. No Tibete, teria passado por um período de treinamento sob a orientação de seu mestre. Em 1858, foi para a França e para a Alemanha, e retornou à Rússia no mesmo ano, passando um curto período com sua irmã Vera em Pskov. De 1860 até 1865, viveu e viajou no Cáucaso, passando por experiências e crises de natureza psíquica, o que lhe possibilitou, segundo ela própria, adquirir total controle sobre seus poderes psíquicos. Partiu da Rússia novamente em 1865, e viajou extensivamente pelos Balcãs, Grécia, Egito, Síria, entre outros lugares. Deu recitais de piano na Transilvânia e na Sérvia, entrou em contato com os carbonários da Itália que buscavam a libertação italiana do domínio Habsburgo, e foi ferida no início de 1868 na Batalha de Mentana, enquanto dava apoio às tropas de Giuseppe Garibaldi. No mesmo ano, em Florença, recebeu um aviso de seu mestre Morya para se juntar a ele em Constantinopla, de onde seguiram para o Tibete, permanecendo um período no mosteiro Tashi Lhunpo em Shigatse, a sede do Panchen Lama. Ali encontrou outro mestre, o Mestre Koot Hoomi, que mantinha uma escola de adeptos adjacente ao mosteiro. Foi recebida por ele como discípula e introduzida no Budismo Tibetano, recebendo ademais uma preparação especial para sua futura missão no ocidente. A veracidade desse relato tem sido questionada, mas sua descrição de Shigatse era correta quando a cidade era na época inacessível para os ocidentais, e seu conhecimento avançado do Budismo Tibetano foi mais tarde ratificado por estudiosos do assunto.
No final de 1870 retornou a Chipre e à Grécia. Em 1871 estava na Grécia e embarcou para o Egito; o navio em que viajava explodiu e naufragou em 4 de julho, mas ela foi salva, e então seguiu para o Cairo, estudou novamente com Metamon e possivelmente com o cabalista polonês Max Théon, e segundo afirmou encontrou-se com outros mestres ligados aos mistérios gregos, coptas e drusos. Em 1872 fundou ali a Société Spirite, onde pretendia incentivar os fenômenos espíritas e mediúnicos codificados por Allan Kardec. Mas em cartas para seus familiares, Blavatsky se mostrou desolada com os participantes do grupo. Alguns fingiam ser médiuns, enquanto outros eram alcoólatras contumazes, ladrões e assim por diante. O grupo não durou muito tempo e não alcançou os objetivos iniciais. Depois de viagens através do Oriente Médio, retornou em julho de 1872 para Odessa. Segundo Helena, na primavera de 1873 o seu mestre deu-lhe instruções para seguir para Paris e, depois, para Nova Iorque.

Estados Unidos e a fundação da Sociedade Teosófica
Blavatsky embarcou no navio para os Estados Unidos com dinheiro suficiente apenas para comprar uma passagem de terceira classe, e quando lá chegou estava sem um centavo, quase não falava inglês e teve de se hospedar em um estabelecimento de caridade para mulheres operárias. Nesse período se sustentou com dificuldade, fazendo bolsas e limpadores de canetas, até que recebeu uma pequena herança de seu pai, morto em 27 de junho de 1873. Investiu o dinheiro, em parceria com uma certa Clementine Gerebko, em terras e uma granja de criação de galinhas, mas como nada entendia de negócios nem de criações, foi à falência rapidamente. Contudo, alegando ter sido enganada pela sócia, levou o caso a julgamento, previu que seria dado um parecer favorável a ela e inclusive escreveu uma carta antecipada ao seu advogado detalhando as bases legais que seriam usadas no veredicto. Sua previsão se confirmou, ela venceu a causa e recebeu uma compensação de 1.146 dólares. Nessa época sua presença já causava uma impressão indelével mesmo em quem a conhecia apenas de passagem, pelo poder que pareciam dela emanar, e seus enormes olhos azuis eram sempre citados como penetrantes e magnéticos, o que contrastava com a pobreza e desleixo de seu vestuário. Seu comportamento nada convencional e sua completa indiferença para com a opinião alheia eram fonte de perplexidade e desconcerto para as pessoas com quem convivia.
Blavatsky em 1875

Em outubro de 1874 Blavatsky conheceu o Coronel Henry Steel Olcott numa sessão espírita que se realizava na fazenda Eddy, no estado de Vermont, e se tornaram amigos. Ao contrário dos seus primeiros anos, que são reconstituídos na maior parte das vezes apenas por seus próprios relatos, desta parte de sua vida em diante existe muita documentação sobre suas atividades. De início eles se envolveram ativamente com o Espiritismo, que nesta época era considerado por Blavatsky do maior interesse, participaram de várias sessões de médiuns famosos na época e ela mesma produziu vários fenômenos. Ambos defenderam publicamente os médiuns e Blavatsky dizia-se acompanhada frequentemente por uma entidade invisível a quem chamou de John King, a quem atribuía a autoria de inúmeros fenômenos paranormais que lhe ocorreram, e era para ela uma companhia confortadora. Em 1875, contudo, um caso espírita fraudulento, não ligado diretamente a Blavatsky, chamou a atenção de toda a imprensa local, o Espiritismo rapidamente começou a perder prestígio, e Blavatsky, que a esta altura estava vivendo de artigos sobre o assunto, começou a enfrentar novamente problemas financeiros. Para sua sorte Olcott passou a apoiá-la. O relacionamento entre eles era assexual, mas se desenvolveu rapidamente para um companheirismo íntimo, chamando-se mutuamente por apelidos, passeando e se divertindo juntos e trabalhando colaborativamente, e em seguida se tornou claramente uma relação de mestre-discípulo. Mantiveram apartamentos no mesmo edifício e todas as noites se reuniam para trabalhar. O apartamento de Blavatsky logo se tornou o ponto de encontro dos aficcionados pelo ocultismo. Sua decoração era tipicamente vitoriana, com pesados cortinados e tapetes e mobiliário, e cheio de uma enorme quantidade de quinquilharias e bibelôs que se misturavam aos seus papéis espalhados por todo canto e a algumas obras de arte oriental. Também possuía muitos animais empalhados, vários pássaros, macacos, lagartos, uma cabeça de leoa acima da porta, uma serpente e uma coruja, mas a estrela dessa coleção era um babuíno de óculos, em pé, usando fraque e colete, e segurando debaixo do braço um exemplar de uma preleção sobre A Origem das Espécies, de Darwin.
Nesta época, para a surpresa de Olcott, Blavatsky casou novamente, por razões obscuras e sem ter-se separado de Nikifor Blavatsky oficialmente, com Michael Betanelly, um exilado da Geórgia, falido, também bígamo e muito mais jovem do que ela, e foi um consórcio tão fugaz e desastrado como o primeiro. Logo percebeu o mau passo que tinha dado e implorou para Olcott "salvá-la". Na mesma altura feriu a perna, que gangrenou e deveria ter sido amputada por ordem expressa de um médico, sob pena de perder a vida. Mas de acordo com o relato de Olcott, por meios ocultos curou a si mesma em uma única noite. Então, depois de uns meses de coabitação tumultuada, deixou o novo marido e ele pediu o divórcio com o argumento de abandono do lar, que foi concedido apenas em 1878.
 Ata preparatória da Sociedade Teosófica, de 8 de setembro de 1875

Depois de mais algumas tentativas com o Espiritismo, Blavatsky começou a mudar seu foco de interesse, e por uma sugestão de dois mestres, membros de uma misteriosa Fraternidade de Luxor, Blavatsky fundou uma sociedade em maio de 1875 que recebeu o nome de Miracle Club (Clube dos Milagres), a fim de informar o público sobre o mundo oculto a partir de um nível superior de inspiração, os mestres vivos de sabedoria, e não as entidades desencarnadas comuns do plano astral, mas o clube logo fracassou. Escreveu também alguns artigos para o jornal Spiritual Scientist sobre uma variedade de assuntos esotéricos, como a filosofia Hermética, Cabala, Magia, Alquimia e Rosacrucianismo, e neles pela primeira vez tornou pública a existência de uma fraternidade oculta de Adeptos ou Mahatmas. Em meados do mesmo ano William Quan Judge se juntou a Blavatsky e Olcott, e eles passaram a manter um salão público para discutir ocultismo. Num desses encontros, em 7 de setembro, quando se dava uma palestra sobre os cânones de proporções dos gregos, egípcios e romanos, Olcott propôs a formação de uma sociedade para estudo desses e outros temas correlatos com vistas às suas implicações esotéricas. Nas reuniões subsequentes Olcott foi eleito presidente e Blavatsky secretária-correspondente. Depois de muito debate sobre o nome que deveria receber a sociedade, em 18 de setembro foi escolhido o de Sociedade Teosófica, e a reunião inaugural aconteceu em 17 de novembro de 1875, na data que é considerada a de sua fundação oficial. Numa de suas cartas para um amigo russo ela expôs o projeto:
"Olcott está agora organizando a Sociedade Teosófica em Nova Iorque. Ela será composta de ocultistas e cabalistas eruditos, de filósofos herméticos do século XIX, e de antiquários devotados e egiptologistas em geral. Queremos fazer uma comparação experimental entre o Espiritismo e a Magia dos antigos seguindo literalmente as instruções dos antigos cabalistas, tanto judeus como egípcios. Ao longo de muitos anos tenho estudado a filosofia Hermética em teoria e prática, e a cada dia me convenço mais de que o Espiritismo em suas manifestações físicas não é nada mais do que a Píton de Paracelso, ou seja, o éter intangível que Reichenbach chama de Od. As pitonisas dos antigos costumavam magnetizar a si mesmas - leia Plutarco e seu relato sobre as correntes oraculares, leia Cornelius Agrippa, a Magia Adamica de Eugenius Philalethes, e outros. Você vai ver sempre melhor, e poderá se comunicar com os espíritos por este meio - auto-magnetismo".

Parece claro, conforme assinalou Farquhar, que nesta altura a Teosofia como hoje é conhecida ainda não nascera, e sua teoria era uma versão ampliada e enriquecida do Espiritismo, mas com um estudo aprofundado das obras de Eliphas Levi e outras fontes que empreendeu então, passou a considerar os fenômenos mediúnicos como manifestações de cascas astrais (restos vivificados dos mortos), e não de espíritos verdadeiros. Sua opinião se tornou pública e ela passou a ser asperamente criticada pelos espíritas. Continuou suas pesquisas e em setembro de 1877 Blavatsky publicou sua primeira obra importante, Ísis Sem Véu, uma grande defesa das religiões antigas, onde abordou a História, o desenvolvimento das ciências ocultas, a natureza e origem da Magia, as raízes do Cristianismo, e, segundo a perspectiva da autora, os erros da teologia cristã e as falácias da Ciência ortodoxa. A escrita desta obra foi realizada em circunstâncias peculiares. Segundo a descrição de Olcott, Blavatsky nesse período experimentou "uma maravilhosa mudança psicofisiológica", e ela passou a ter seu corpo ocupado por diversos personagens de elevada erudição, que lhe ditavam partes do texto e lhe forneciam referências ou citações de obras que ela jamais havia lido pessoalmente, e eram ou desconhecidas dos ocidentais ou raras, de difícil acesso. À medida que trabalhava no manuscrito, se percebiam diversas caligrafias diferentes, que ela atribuía à influência de diversos mestres trabalhando através dela. Ísis sem Véu foi a obra que conheceu mais popularidade em sua vida, esgotando rapidamente várias reimpressões consecutivas. Neste mesmo ano, Blavatsky foi naturalizada cidadã estadunidense. Ela começava a atrair a atenção internacional em virtude da novidade de seus escritos, enquanto que sua residência se tornava um ponto de encontro para a intelectualidade novaiorquina.
Mudança para a Índia
Apesar do sucesso inicial da Sociedade e da popularidade de Ísis sem Véu, a Teosofia não progrediu conforme o planejado. Foi fundada uma filial da Sociedade em Londres, mas na América a maioria dos membros fundadores acabou desertando e novos não chegaram em número suficiente. Além disso os ataques dos espíritas não cessavam. Em fins de 1878 Olcott e Blavatsky estavam quase sozinhos e endividados. Depois de alguma hesitação, decidiram partir. Leiloaram o conteúdo dos seus apartamentos, Olcott conseguiu um passaporte diplomático do governo, pagaram os credores, a direção da Sociedade na América foi entregue para o general Abner Doubleday, e se transferiram para a Índia em 9 de dezembro. Chegaram em Bombaim no início de 1879 e foram recebidos com uma festa suntuosa por simpatizantes indianos, dada na casa de seu anfitrião, Hurrychund Chintamon, mas para sua surpresa depois foi-lhe apresentada a conta dos gastos. Acabaram brigando com Chintamon, saindo de sua casa e indo encontrar uma hospedaria decadente no pobre bairro nativo da cidade. Em abril iniciaram a publicação de uma revista, The Theosophist, da qual Blavatsky era a editora e para a qual escreveu diversos artigos, que logo se revelou lucrativa, e começaram a viajar pelo país, visitando santuários e gurus, e aprenderam deles sobre ioga e os poderes que podia conferir ao iniciado. Em 1880 passaram algum tempo no Ceilão, se converteram oficialmente ao Budismo, e em dezembro puderam se estabelecer em uma casa mais confortável num bairro mais salubre de Bombaim. Blavatsky passou a produzir fenômenos psíquicos para os círculos ilustrados anglo-indianos, mas aparentemente fez uso de meros truques de mágica de salão e logo se acendeu a polêmica e voltaram as acusações de fraude. Se tornou difícil mesmo para os amigos de Blavatsky defendê-la publicamente, e eles a acusaram de ser por demais tola ao se prestar a uma degradação tão barata de suas habilidades. De qualquer forma ela conseguiu fazer um crescente número de admiradores influentes, entre eles Alfred Percy Sinnett, o editor de um grande jornal da Índia, The Allahabad Pioneer, e Allan Octavian Hume, secretário do governo indiano. Também recebeu o apoio de devotos hindus e budistas na Índia e Ceilão, que combatiam a penetração de missionários cristãos.

                                                    A sede da Sociedade em Adyar, 1890

 O sério interesse de Sinnett e Hume nos ensinamentos e trabalho da Sociedade Teosófica fez com que Blavatsky estabelecesse correspondência "precipitada" (materializada) entre eles e os Mahatmas Koot Hoomi e Morya, e a partir delas Sinnett escreveu em 1881 O Mundo Oculto, que teve ampla circulação. Mas como todas as cartas tinham de passar por ela para serem enviadas e recebidas, em 1882 ambos decidiram escrever uma carta aos mestres pedindo para receber suas cartas sem intermediários. Imediatamente após retirar-se para enviá-la, fechada, Blavatsky emergiu do seu quarto em fúria acusando-os de traidores, e foi quando se provou que Blavatsky não era um mensageiro isento e manipulava as cartas, o que ocasionou seu rompimento com Hume, pois ficou-lhe evidente que ela complementava com truques quaisquer poderes psíquicos que porventura tivesse em realidade. Sinnett, porém, manteve-se a seu lado, e como resultado seu contato com os mestres continuou, e a partir do material reunido ele escreveu o Budismo Esotérico em 1883. Ambos os livros exerceram grande influência e fizeram com que o interesse pela Teosofia e pela Sociedade Teosófica aumentasse. As cartas enviadas pelos mahatmas a Sinnett foram publicadas em 1923 como as Cartas dos Mahatmas para A.P. Sinnett. Ainda em 1882 Blavatsky e Olcott adquiriram uma grande área em Madras, na Índia, no bairro de Adyar, estabelecendo oficialmente lá a Sede Internacional da Sociedade Teosófica, mas ao que parece suas relações começaram a estremecer. Peter Washington sugere que os motivos para isso foram que Olcott sempre tivera uma personalidade reservada e era integralmente honesto, enquanto que Blavatsky era uma figura explosiva, estava sempre no meio de um tumulto e indícios de fraudes em seus fenômenos paranormais se acumulavam dia a dia. É possível que ela usasse a polêmica e o escândalo como forma de chamar a atenção para sua causa, mas os métodos dúbios que usava para isso já não pareciam agradar ao velho coronel. Ao mesmo tempo começou a se patentear uma luta de poder entre ambos, sendo Olcott o presidente da Sociedade, o que fazia questão de lembrar, e Blavatsky a secretária, mas ela reiterava sua preeminência espiritual como a escolhida dos mestres, e não raro desdenhava do colega em termos pouco dignos. Diante disso, Olcott parece ter-se conscientizado de que o trabalho que ele poderia oferecer na Sociedade, como o bom administrador e articulador que era, seria mais importante do que a devoção incondicional à sua amiga, e passou a trilhar um caminho mais independente, viajando sozinho para vários lugares da Índia, Birmânia e Ceilão em missões de divulgação da Sociedade e da Teosofia, realizando obra social de grande importância.
O Caso Coulomb
                      Facsimilie de uma das cartas dos mahatmas, assinada "Serapis".
Entretanto, em 1884 Blavatsky voltou com Olcott para a Europa a fim de aplacar uma disputa entre Sinnett, que havia se mudado para Londres, e Anna Kingsford, a presidente da filial londrina, que estava mais inclinada a assimilar a Teosofia para dentro do universo cristão. Depois de visitarem Paris e Nice, onde a Teosofia atraía muitos novos interessados, foram para Londres, onde aconselharam Kingsford a fundar um grupo paralelo, a Loja Hermética, que em poucos dias desligou-se por completo da Sociedade. Conheceram Charles Leadbeater, que veio a ser um dos mais importantes teósofos da segunda geração, e Blavatsky o aceitou como discípulo. Entraram em contato com membros da Sociedade para Pesquisas Psíquicas de Londres e visitaram brevemente amigos na Alemanha, onde se fundou uma outra Loja. Neste ínterim, em Adyar, Alexis e Emma Coulomb, empregados da sede indiana da Sociedade, fizeram circular histórias e panfletos dizendo que Blavatsky havia forjado as então famosas cartas dos mahatmas, aparentemente instigados por missionários cristãos hostis à Teosofia. Na sequência, a Sociedade para Pesquisas Psíquicas foi chamada a enviar um delegado, Richard Hodgson, para investigar as acusações. Hodgson elaborou um relatório onde confirmava a fraude e a acusava de ser uma espiã russa e uma das maiores impostoras da história, o que teve uma enorme repercussão, levando ao descrédito generalizado de Blavatsky entre os anglo-indianos e ao seu verdadeiro massacre pela imprensa européia, mas as réplicas que ela ofereceu em defesa própria foram ignoradas. Ela retornou com Olcott e Leadbeater para Adyar em dezembro de 1884 para informar-se melhor sobre a situação e foi recebida festivamente por partidários do movimento nacionalista indiano, que viam na defesa de alguém que era favorável à cultura nativa um pretexto para atacar os colonizadores ingleses. Entusiasmada, Blavatsky quis processar o casal Coulomb, que havia nesta altura sido banido de Adyar, a fim de esclarecer o episódio e reabilitar seu nome, mas um comitê da Sociedade Teosófica reunido por Olcott decidiu impor-lhe o silêncio, para evitar transtornos maiores que poderiam comprometer todo o movimento. Na sequência do Caso Coulomb suas relações com Olcott se tornaram ainda mais tensas, e o posicionamento dele a favor de seu silêncio parece ter decretado na prática o fim da amizade, ainda que não houvesse um rompimento formal. Ele chegou a lhe dizer que a Sociedade já não podia tolerar os seus escândalos e caprichos dispendiosos. Desapontada, renunciou ao cargo de secretária-correspondente e, fortemente pressionada por Olcott, em março de 1885 partiu para a Europa, sem Olcott, para nunca mais retornar à Índia.
O Relatório Hodgson foi utilizado durante anos como justificação para atacar Blavatsky e tentar provar a inexistência dos mahatmas, mas na mesma época um outro relatório foi escrito por F. Myers em caráter confidencial para a Sociedade para Pesquisas Psíquicas dizendo que havia contradições em muitos depoimentos e que as investigações não haviam sido levadas a cabo com suficiente imparcialidade, e por isso instava para que se reavaliasse o processo. Ademais, dizia que os Coulomb não eram digno de crédito, pois haviam participado voluntariamente em toda a suposta farsa antes de decidir denunciá-la, possivelmente haviam recebido 10 mil rúpias dos missionários cristãos para denegrirem a Sociedade, e pediram depois uma alta soma em dinheiro em troca da retirada das acusações. Desde então apareceram vários testemunhos públicos contra a condenação sumária de Blavatsky, sendo especialmente significativo o de Vernon Harrison, um membro da própria Sociedade para Pesquisas Psíquicas, escrito em 1997 e baseado numa análise caligráfica dos documentos, enquanto outros continuam vendo-a como uma impostora. De todo modo a situação é confusa, muitas das evidências materiais já não existem e não podem ser reavaliadas, e ao que tudo indica o caso vai permanecer para sempre um mistério.
ANOS FINAIS NA EUROPA

Os últimos anos de Blavatsky foram dedicados a uma intensa atividade literária, mas teve de enfrentar algumas graves crises internas na Sociedade e uma série de doenças - nefrite, úlceras, reumatismo, hidropisia, sangramentos e sua eterna obesidade, que atingira seu ponto mais grave, mal permitindo que andasse - e chegou várias vezes à beira da morte. Aportando em Nápoles em abril de 1885, de lá Blavatsky foi para Würzburg, na Alemanha, onde permaneceu até maio de 1886 em companhia da condessa Constanze Wachtmeister, que se tornou sua companheira fiel, e adiantou a escrita da que veio a ser sua obra-prima, A Doutrina Secreta. Depois foi para Ostende, onde caiu de cama gravemente enferma, sendo desenganada pelos médicos. Nessa ocasião seu mestre teria lhe aparecido, dando-lhe a opção de morrer e se livrar dos tormentos físicos, ou viver com mais sacrifícios e terminar seu trabalho. Escolhendo viver, recuperou-se rápido, para a surpresa de todos.
Daí dirigiu-se para Londres, onde sua presença fora solicitada para dar novo impulso à Sociedade, que ali declinava. Fixou residência definitiva em 1º de maio de 1887 e foi acolhida por seus amigos londrinos, indo morar com Mabel Collins. Imediatamente deu seguimento ao trabalho na Doutrina Secreta, conheceu Annie Besant, que se tornou a sua principal discípula na fase final de sua vida e mais tarde veio a assumir a presidência da Sociedade Teosófica, e fundou uma filial exclusiva da Sociedade, a Loja Blavatsky. As reuniões, sempre concorridas, eram bastante incomuns para seu tipo, as discussões eram informais, e eram conduzidas por Blavatsky de acordo com o método socrático. Respondia às perguntas do público com muita atenção, profundidade e interesse, mas se alguém dizia algo para confundi-la intencionalmente sua reação era vulcânica. Como havia perdido o controle sobre The Theosophist, lançou em setembro uma nova revista, Lucifer, cujo título era intencionalmente provocativo por ser um dos nomes do Diabo, mas que significa realmente "aquele que traz a luz". Pouco depois seus editores, os Keightley, providenciaram para ela e para a Wachtmeister uma casa, e ali, sempre doente, iniciou a preparação para publicação de A Doutrina Secreta, o que custou um trabalho ingente ao grupo que a ajudava, uma vez que a quantidade de material era enorme e estava completamente desorganizado. Relatos de seus amigos dizem que as discussões eram frequentes e se podiam ouvir os gritos de Blavatsky por toda a rua afora. O plano da obra foi estabelecido pelos seus editores para tomar quatro volumes - Evolução do Cosmos, Evolução do Homem, Vidas de Ocultistas Célebres, e Aspectos Práticos do Ocultismo, mas somente as duas primeiras partes vieram à luz ainda em sua vida, a partir de outubro de 1888.
                                                Helena Blavatsky e Henry Olcott em 1888

                                                                 
                   Blavatsky em 1890, entre James Morgan Pryse e George Robert Stow Mead


Ainda em outubro se desenhou um conflito de autoridade entre Blavatsky, Olcott e Judge, em torno da criação da Seção Esotérica da Sociedade Teosófica, para estudos avançados, e na convenção geral foi reconhecido que a Sociedade precisava se reestruturar diante de seu rápido crescimento, que a havia tornado uma entidade internacional e dera margem a uma série de intensas discórdias internas. Em julho de 1889 publicou o livro A Chave para a Teosofia, uma exposição de Ética, Filosofia e Ciência em forma de perguntas e respostas, expondo a razão pela qual a Sociedade Teosófica foi fundada e quais eram seus ensinamentos básicos. Debilitada, viajou no mesmo mês para Fontainebleau, na França, a fim de repousar, mas em vez disso escreveu em poucos dias A Voz do Silêncio, um livro baseado no Livro dos Preceitos de Ouro, que ela havia memorizado enquanto residia com os monges tibetanos. Voltando a Londres continuou escrevendo artigos menores, mudou-se em julho de 1890 para a casa de Annie Besant, que havia sido transformada no quartel-general da Sociedade e no centro de reuniões do Grupo Esotérico. Nesta época Blavatsky havia assumido a direção geral da seção inglesa da Sociedade, que se instalou em uma sede independente. Em fevereiro de 1891 irrompeu uma epidemia de gripe em Londres, que atingiu também Blavatsky. Seu quadro se agravou e em 8 de maio, às 14h25min, faleceu tranquilamente, cercada de amigos. A causa mortis foi uma combinação de nefrite e gripe.
Suas últimas palavras foram "Keep the link unbroken! Do not let my last incarnation be a failure" ("Mantenham o elo intacto! Não façam de minha última encarnação um fracasso"). Seu corpo foi cremado em 11 de maio e um terço das cinzas ficou na Europa, um terço foi para os Estados Unidos e o outro terço encontra-se na Sede Internacional da Sociedade Teosófica, em Adyar, depositadas sob uma estátua dela. Após sua morte e a de Henry Olcott a liderança da Sociedade Teosófica foi entregue à sua discípula favorita, Annie Besant. Em seu testamento, Blavatsky pediu aos teósofos que celebrassem a data de seu falecimento como o Dia do Lótus Branco. Atendendo ao seu pedido, desde 1892 os membros da Sociedade Teosófica ao redor do mundo reúnem-se nesta data para homenageá-la.

SUA PERSONALIDADE

Helena Blavatsky foi descrita por seus contemporâneos em extremos de admiração e de desprezo, embora fosse uma figura fascinante para todos, pelo menos no que diz respeito ao seu carisma, inteligência e vivacidade pessoal, onde não estava ausente um grande senso de humor, que se expressava da maneira mais cômica quando falava mal de si mesma e levava às gargalhadas seus amigos. Seu comportamento nada tinha de previsível ou polido, estava longe das convenções sociais, era dramática, impulsiva e propensa a dar escândalos, a opinião alheia lhe era indiferente, mas não era esnobe. Não demonstrava ter uma natureza sensual mas falava abertamente sobre sexo. Era muito obesa, adorava comidas gordurosas e vestia-se de modo confuso, preferindo largas túnicas exóticas e vestidos soltos que tornavam seu perfil volumoso ainda mais indistinto; gostava de usar uma profusão de anéis. Era barulhenta, falava incessantemente exceto quando escrevia, mas era uma conversadora brilhante que cativava imediatamente seus ouvintes com uma ininterrupta série de histórias deslumbrantes sobre suas viagens e experiências incomuns em países exóticos. Na discussão pública era praticamente imbatível, mantendo uma posição de extrema autoconfiança e veemência, suportadas por uma erudição e versatilidade que impressionavam a todos. Fumava sem parar cigarros de fumo turco que ela mesmo enrolava e oferecia a todas as suas visitas, gostava de haxixe, de café e de chá. Contrariada, tinha acessos de intensa cólera, quando proferia maldições e outros impropérios nas cerca de quarenta línguas e dialetos que dominava, e que em segundos passavam para um humor tranquilo, carinhoso e jovial. Em certas épocas bebia brandy em quantidade "o suficiente para matar um iaque tibetano", como ela mesma dizia. Na fase de apogeu de sua carreira as excentricidades de seu comportamento e sua própria figura física eram o exato oposto de quem, de acordo com as expectativas da época, se apresentava como uma discípula de santos e sábios. Esteve durante toda sua carreira pública envolvida em polêmicas e deixou muitas declarações intencionalmente contraditórias sobre sua vida.


PRINCIPAIS OBRAS

Seria impossível abordar aqui toda a produção literária de Helena Blavatsky, pois ela é demasiado vasta, sua obra completa publicada abrange dezenas de volumes entre livros, artigos, ensaios e correspondência. A seguir são analisadas apenas suas peças mais célebres e significativas, sem que isso represente uma omissão de informações importantes, já que em suma o principal de sua carreira foi voltado para a divulgação de um único tema, a Teosofia. As principais e mais conhecidas são: Ísis sem Véu, A Doutrina Secreta, A Voz do Silêncio, A Chave para a Teosofia, Glossário Teosófico.






PARACELSO




Paracelso, pseudônimo de Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, (Einsiedeln, 17 de dezembro de 1493Salzburgo, 24 de setembro de 1541) foi um famoso médico, alquimista, físico e astrólogo suíço.
Seu pseudônimo significa "superior a Celso (médico romano)". Entre todas as figuras erráticas do renascimento, a de Paracelso está pontada pela agitação da sua vida e pela a incoerência das suas opiniões e doutrinas. No estudo da sua biografia, facto tem sido gradualmente separado da fantasia, mas nenhum acordo foi alcançado no que respeita bem quanto à natureza e sentido de seu ensino. Ele é considerado por muitos como um reformador do medicamento. Outros elogiam suas realizações em Química e como fundador da Bioquímica. Ele aparece entre cientistas e reformadores como Andreas Vesalius, Nicolau Copérnico e Georgius Agricola, e, portanto, é visto como um moderno. Por outro lado, sempre possuiu uma aura de místico e até mesmo obscura reputação de mágico.
Durante séculos o seu trabalho tem sido criticado como não-científico, fantástico e na fronteira com a demência sendo que muitas de suas obras são puramente religiosas, sociais e éticas de caráter.
Infância
Paracelso nasceu em Ensiedeln, na Suíça. Seu pai era um médico e alquimista suabiano e sua mãe era suíça. Na infância, foi educado pelo seu pai, que também era alquimista e médico. Acompanhava-o nas caminhadas pelas montanhas e povoados, observando a manipulação de medicamentos. Aprendeu a gostar das plantas e ervas silvestres. Foi educado na Áustria e quando jovem trabalhou em minas como analista. Ele se formou em Medicina na Universidade de Viena em 1510, quando tinha 17 anos. Especula-se que ele tenha feito seu doutorado na Universidade de Ferrara.

Formações acadêmicas

Foi educado na Áustria e quando jovem trabalhou em minas como analista. Formou-se em Medicina na Universidade de Viena em 1510, quando tinha dezessete anos. Especula-se que ele tenha feito o seu doutorado na Universidade de Ferrara.

Viagens

Viajou para vários lugares do mundo, em busca de novos conhecimentos médicos e insatisfeito com o ensino tradicional que recebeu na academia. Foi para o Egito, Terra Santa, Hungria, Tartária, Arábia, Polônia e Constantinopla procurando alquimistas de quem pudesse aprender algo. Ao passar pela Tartária, conhecido como Reino do Grande Khan, Paracelso conseguiu curar o seu filho.

Regresso à Europa

No retorno de Paracelso à Europa, seus conhecimentos em tratamentos médicos tornaram-no famoso. Ele não seguia os tratamentos convencionais para feridas, que consistiam em derramar óleo fervente sobre elas; se as feridas estivessem em um membro (braço ou perna), esperava-se que elas ficassem em gangrena para então amputar o membro afetado. Paracelso acreditava que as feridas se curariam sozinhas se o pus fosse evacuado e a infecção fosse evitada.
Ele rejeitava as tradições gnósticas, mas manteve muitas das filosofias do Hermetismo, do neoplatonismo e de Pitágoras; de qualquer modo, a ciência Hermética tinha tantas teorias aristotélicas que a sua rejeição do Gnosticismo era praticamente sem sentido. Em particular, Paracelso rejeitava as teorias mágicas de Agrippa e Flamel. Ele não se achava um mago e desprezava aqueles que achavam que fosse.
Paracelso foi um astrólogo, assim como muitos (se não todos) dos físicos europeus da época. A Astrologia foi uma parte muito importante da Medicina de Paracelso. Em um de seus livros, ele reservou várias seções para explicar o uso de talismãs astrológicos na cura de doenças. Criou e produziu talismãs para várias enfermidades, assim como talismãs para cada signo do Zodíaco. Ele também inventou um alfabeto chamado "Alfabeto dos Reis Magos" e esculpiu nos talismãs nomes angelicais.

Visão e doutrina

A distinta natureza da filosofia de Paracelso é consequência da visão cosmológica, teológica, filosofia natural e medicina à luz de analogias e correspondências entre macrocosmos e microcosmos. As especulações acerca dessas analogias tinham seriamente empenhado a mente humana desde o tempo pré-Socrático e Platônico e durante toda a Idade Média. Paracelso foi o primeiro a aplicar essas especulações para o conhecimento da natureza sistemática.
Isso associado com a singular posição que ele assume no que diz respeito à teoria e à prática de aquisição de conhecimentos em geral, quebrou longe do ordinário lógico, antigo e medieval e moderno, seguindo as suas próprias linhas, e é nisto que muito do seu trabalho naturalista encontra explicação e motivação.
Segundo Paracelso, se o homem, o clímax da criação, une em si mesmo todos os componentes do mundo em torno dele como minerais, plantas, animais e corpos celestes, ele pode adquirir conhecimento da natureza de modo muito mais directo e "interna" do que a forma externa de consideração dos objetos pela mente racional. O que é necessário é um ato de atração simpática entre o interior representativo de um determinado objeto, na própria constituição do homem e o seu homólogo externo. A união com o objeto é então o soberano meio de adquirir conhecimento íntimo e total. Esta não é alcançada pelo cérebro, a sede da mente racional. E é num nível mais profundo, à pessoa como um todo, que é dado o conhecimento. É o seu corpo astral que ensina o homem. Por meio do seu corpo astral o homem comunica com a supraelementrariedade do mundo astral. Astrum é o contexto que denota não só o corpo celestial, mas a virtude ou atividade essencial de qualquer objeto. Isto no entanto não é atingido num estado racional de pensamento, mas sim em sonhos e transes fortificados por força de vontade e imaginação.
O que parece ser original em Paracelso, então, não é a teoria microcósmica em si mesma, nem a busca da união com o objeto, mas o emprego consistente desses conceitos como a ampla base de um elaborado sistema de correspondências na filosofia e medicina natural.

A morte

Voltou para Salzburgo em 1540, convidado pelo bispo da cidade. Faleceu em 24 de setembro de 1541 com apenas 47 anos, em um hospital, sonhando ter fabricado o Elixir da Vida. A causa de sua morte não foi esclarecida. Uma hipótese é que teria sido assassinato em 1541, como foi evidenciado na exumação de seus ossos, que mostrou uma fratura no crânio. O corpo foi velado na igreja de São Sebastião e, de acordo com o seu último desejo, foram entoados os salmos bíblicos 1, 7 e 30.
A fama de Paracelso aumentou com as suas curas milagrosas e, após sua morte, a sua fama cresceu ainda mais. Um século depois, centenas de textos paracelsianos foram publicados, referindo-se quase todos a medicamentos químicos. No final do século XVI, existia já uma imensa literatura sobre a nova matéria médica. Devido ao facto de a abordagem médica de Paracelso diferir tanto daquilo que era aceitável até então, estabeleceu-se uma enorme confrontação entre os paracelsianos e o sistema médico oficial em vigor até então, confrontação aguçada pelo impacto provocado pelos humanistas, que desdenhavam das obras de Dioscorides e de Plínio, ambos muito populares no final da Idade Média, e enalteciam trabalhos menos conhecidos, especialmente os tratados de fisiologia e anatomia de Galeno. Muitos médicos seguidores de Paracelso eram alemães; na França, a confrontação foi mais agravada pelo facto de muitos médicos paracelsianos serem huguenotes (protestantes, partidários de Calvino); na Inglaterra, tal confrontação foi menos tempestuosa, tendo sido adotados os medicamentos químicos, que eram utilizados simultaneamente com medicamentos tradicionais galênicos.



 CORNÉLIO AGRIPPA


Heinrich Cornelius Agrippa von Nettesheim (Colônia, 14 de Setembro de 1486Grenoble, 18 de Fevereiro de 1535) foi um intelectual polemista e influente escritor do esoterismo da Renascença. Interessou-se pela magia, ocultismo, alquimia, astrologia e demais curiosidades esotéricas. Pelo que deixou escrito, é considerado o primeiro intelectual feminista. Esteve ao serviço de Maximiliano I devotando o seu tempo ao estudo das ciências ocultas. Foi citado por Mary Shelley em Frankenstein, e no conto O Mortal Imortal surge como uma das personagens.
Cornelius Agrippa foi o autor do livro mais abrangente e mais conhecido sobre magia e todas as artes ocultas: De occulta philosophia libri tres / Três Livros de Filosofia Oculta. Mais para o fim da sua vida voltou-se contra as curiosidades e práticas esotéricas, mas também contra as mais respeitáveis e estabelecidas formas de conhecimento científico: De incertitudine et scientiarum vanitate et Artium, atque Excellentia Verbi Dei, declamatio invectiva. Uma declamação invectiva sobre a incerteza e vanglória das ciências, 1526. Proclamou-se a favor do cepticismo e da simples devoção fideísta. Em 1529 escreve: De Nobilitate e Praecellentia Foeminei Sexus, onde argumenta que o sexo feminino é superior e não meramente igual ao masculino.
Em seu próprio século, foi muitas vezes denunciado como perigoso e herético. De occulta philosophia foi muito lida por estudantes dos mais recônditos e menos respeitáveis ramos da filosofia natural e ciências ocultas. Alguns deles buscaram alternativas para a filosofia aristotélica natural ensinada nas universidades. Outros procuraram caminhos menos convencionais, como o sucesso em operações alquímicas ou a capacidade de usar segredos mágicos para controlar tanto o mundo natural como o mundo dos espíritos. É intrigante como este autor assumiu posições tão antagónicas. Inicialmente muito crédulo em relação à magia, alquimia e astrologia, e posteriormente um grande céptico, incluindo em relação ao seu próprio trabalho mágico.
Cornelius Agrippa fornece uma demonstração clara da grande agitação intelectual que se tinha apoderado dos humanistas da Renascença, ao recuperarem as obras dos antigos. Isto incluía não apenas os autores clássicos considerados "respeitáveis" pelos modernos, mas também um vasto corpo de antigos (ou pseudo-antigos) textos que alegadamente ofereciam a sabedoria das origens, de uma alegada civilização humana chamada prisca theologia. Eram textos herméticos do antigo Egito, Oráculos Caldeus, escritos de Zaratustra, ensinamentos atribuídos a Pitágoras e supostamente repassado dele para Platão e seus seguidores. Agrippa foi um dos principais especialistas de seu século sobre este tipo espiritual e teosófico da sabedoria antiga.





NICOLAS FLAMEL


Nicolas Flamel ou Nicolau Flamel, em português (Pontoise, França, 13301418?) foi um escrivão e vendedor de sucesso francês que ganhou fama de alquimistas após seus supostos trabalhos de criação da pedra filosofal. Casado com Dame Perenelle Flamel, segundo a lenda teria fabricado a pedra filosofal, o elixir da longa vida e realizado a transmutação de metais em ouro por meio de um livro misterioso.
VIDA
Após a morte de seus pais, Flamel foi trabalhar em Paris como escrivão. E em 1364 casou-se com Perrenelle, que era viúva. Conseguiu algum dinheiro e passou a dedicar-se ao estudo da alquimia. Nicolau e sua esposa eram católicos devotos. E, com o passar do tempo se tornaram conhecidos pela riqueza e pela filantropia que realizavam, assim como as múltiplas interpretações que davam à alquimia da época.

OBRAS LITERÁRIAS
Escreveu "O Livro das Figuras Hieroglíficas" em 1399, "O Sumário Filosófico" em 1409 e "Saltério Químico" em 1414.

A PEDRA FILOSOFAL

Segundo a lenda, em torno de 1370, Flamel encontrou um antigo livro que continha textos intercalados com desenhos enigmáticos, aparentando hieróglifos. A história de sua vida poderia ser resumida na guarda deste livro, mesmo após muito estudá-lo, Flamel não conseguiria entender do que se tratava. Ainda segundo esta história, ele teria encontrado um sábio judeu em uma estrada em Santiago, na Espanha, que fez a tradução do livro, que se tratava de cabala e alquimia, possuindo a fórmula para a pedra filosofal.
Flamel, a partir de 1380, começou a se dedicar à alquimia prática. Segundo conta-se, conseguiu produzir ouro em torno de 1382 e depois finalmente a transmutação em ouro. Cerca de dez anos mais tarde do início dos experimentos, começou a realizar um grande número de obras de caridade como a construção de hospitais, igrejas, abrigos e cemitérios e os decorar com pinturas e esculturas contendo símbolos alquímicos e muito ouro.

 

LENDA

A lenda, no entanto, conta que, na realidade, ambos, Flamel e Perrenelle, não morreram, e que em suas tumbas foram encontradas apenas suas roupas em lugar de seus corpos, eles teriam vivido graças ao elixir da longa vida, ao qual, Flamel também teria fabricado.
Flamel deixou um testamento escrito a seu sobrinho, em que revelava os segredos que descobrira sobre a alquimia. O "Testamento de Nicholas Flamel" foi compilado na França no final dos anos 1750 e publicado em Londres em 1806. O documento original foi escrito de próprio punho por Nicholas Flamel em um alfabeto codificado e criptografado que consistia em 96 letras. Um escrivão Parisiense chamado Father Pernetti o copiou e um Senhor de Saint Marc pôde finalmente quebrar o código em 1758.
Foi citado na série de livros Harry Potter como tendo realmente conseguido produzir a pedra filosofal e vivido 665 anos. Ele a teria destruído no final do primeiro livro da série, "Harry Potter e a Pedra Filosofal". Há menção também em O Código Da Vinci de Flamel tendo sido um dos grão-mestres do Priorado de Sião.

FALECIMENTO E LEGADO

Flamel faleceu em 22 de março de 1418, com mais de 80 anos, e sua casa foi saqueada por caçadores de tesouros e gente ávida por encontrar a pedra filosofal ou receitas concretas para sua preparação.
A casa onde Flamel residiu com sua esposa ainda existe. Ela situa-se na rue de Montmorency, no número 51, sendo a mais antiga casa de pedra da cidade. No andar térreo, hoje encontra-se um restaurante.
Seu nome e o de sua mulher foram dados a ruas próximas do Museu do Louvre, em Paris, em homenagem a eles.